No Encontros com o Professor, o jornalista Ruy Carlos Ostermann conversou com o professor e diretor geral do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti. Na conversa que contou com um público de mais de 300 pessoas, o professor fez um relato das ações do Instituto, entre eles o Mova Brasil, um projeto para promover uma ação alfabetizadora que saia dos bancos escolares, e conforme Gadotti, uma metodologia que não só ensina a escrever, mas também ensina a ser cidadão.
Gadotti também comentou sobre o início do Fórum Mundial de Educação, que teria surgido a partir em 2001 durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, junto a outros fóruns que também começaram a ser realizados. Ele destacou a filosofia de Paulo Freire, um grande pedagogo, que deixou um legado ao IPF e aos educadores. “Ele não deixou discípulos como seguidores de idéias, deixou a crença de que é possível mudar o mundo”, comentou.
O professor foi enfático ao dizer que o grande número de salas de aula não significa qualidade de ensino, sendo que esta caiu muito. Em épocas anteriores, tempos passados, quando o número de pessoas que tinham acesso à educação era bem menor, a qualidade de aprendizado era melhor. Mas mesmo com as pessoas freqüentando mais os bancos escolares ainda é grande o número dos que não vão à escola.
Explicando suas afirmações com dados, argumenta que hoje somente 15% de crianças entre zero e quatro anos têm acesso à educação infantil na primeira infância. Na cidade de São Paulo 75 mil crianças estão fora da escola. Estes dados negativos ele atribui ao tratamento destinado às políticas públicas para a educação no país. Segundo parâmetros mundiais quem não completa nove anos de estudos pode ser considerado analfabeto funcional, e segundo ele, no Brasil apenas 26% da população domina completamente a escrita e a leitura.
Osterman questionou Gadotti quanto às políticas públicas. “Elas não estão sendo adotadas ou não estão sendo adotadas de maneira correta?”. O professor comentou que em um período anterior a dez anos foi criado um problema por se priorizar o ensino fundamental, mas desde a posse no Ministério da Educação, o Ministro Fernando Haddad apresentou uma visão mais sistêmica do processo educativo, com ações que mexem com todos os níveis de ensino, desde a pré-educação até o pós doutorado, por exemplo.
O apresentador do programa também comentou sobre seu espanto com as respostas de Gadotti quando perguntado sobre o prazer de ser professor, apesar das dificuldades. “Como vi uma menina lhe perguntando professor: Como, sem salário, sem estímulos para exercer a profissão, alguém pode querer ser professor?, pergunta. Para Gadotti, professor há 45 anos, o segredo é insistir na “boniteza” da profissão. Em ensinar e aprender quando há busca, beleza e “boniteza”, como define Paulo Freire em seu último livro, Pedagogia da Autonomia.
Mesmo com todas as dificuldades Gadotti não vê o futuro com menos professores. “Eu vejo um futuro talvez com menos médicos em função da descoberta da cura para várias doenças, com menos dentistas, mas não vejo o mundo sem professores. Eu penso que nós professores temos que construir, temos que ver onde está o sentido das coisas, onde está a ‘boniteza’”, frisa. Para ele, a profissão de professor é a que ensina, que dá sentido para as coisas quando as marca como sinais. Ele lembra que o verbo ensinar, deriva do latin, do “signare”, onde este significa colocar dentro, gravar no espírito.
Encontros com o Professor – Tem o formato de um talk show, onde o apresentador Ruy Carlos Ostermann recebe a cada quinze dias um expoente da cultura brasileira para uma conversa informal com a participação do público. Esta edição do Encontros com o Professor é a primeira realizada de forma itinerante e Santa Maria foi a cidade escolhida por estar sediando o Fórum Mundial de Educação.
Texto Daiani Ferrari