O ginásio principal do Centro Desportivo Municipal (CDM) ficou lotado, na manhã desta quinta (29), durante a abertura das discussões do Fórum Mundial da Educação. Aproximadamente 6 mil pessoas participaram da grande conferência, que tratou sobre o tema de um dos três eixos do Fórum: Educação e Economia Solidária. Outras 4 mil participaram das atividades paralelas. Os conferencistas foram Guillermo Willimson, da Universidad de La Frontera do Chile, Helena Singer, da Cidade Escola Aprendiz de São Paulo, e Sergio Kapron, da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre.
O coordenador da mesa foi o professor Moacir Gadotti, do Instituto Paulo Freire, e a relatora Loiva Machado, da Cáritas do Brasil. Gadotti falou, durante a abertura da discussão, sobre o início dos debates acerca da temática da economia solidária, por volta dos anos 70. Disse que na época, o tema era tratado como inusitado. Agora, segundo o professor, o conceito invadiu a América Latina e já tem no Brasil uma grande referência, especialmente Santa Maria. O educador ainda destacou que a economia solidária e a educação são dependentes uma da outra. Segundo ele, a ES surge através de uma opção de vida, de uma adesão, de uma formação, o que é cultivada nos cidadãos através da educação.
Para ele, os princípios de cooperação, a base da economia solidária, têm potencial educativo enorme. Lembrou do livro escrito por ele em 1983 que falou pela primeira vez do assunto economia solidária e educação, que se chama “Educação Comunitária e Economia Popular. “Desde aquela época já tínhamos uma certa percepção de que a educação precisava de solidariedade, assim como a economia também necessita. Precisamos de formação para criar novos modos de vida, pois nós devemos ser a mudança que queremos para o mundo”, destacou.
Conferencistas discutiram diferentes ângulos acerca do tema educação e economia
O chileno Guillermo Williamson foi o primeiro palestrante da manhã. Ele frisou que o tema economia não se restringe somente a profissionais do meio, mas também aos educadores que são consumidores, produtores e transmissores de cultura. Para ele, a ES se sustenta através da cooperação, solidariedade, ética planetária, comércio justo, produção e consumo sustentável. Williamson citou o modelo neoliberal do capitalismo, que promove a concentração econômica e, com isso, de poder também. Segundo ele, o desafio mundial, atualmente, é a igualdade a partir da diversidade. Finalizou dizendo que o desenvolvimento da ES se dará somente através da educação e pedagogia solidária.
O economista Sérgio Kapron observou, durante sua esplanação, que nos últimos anos houve um salto grande na compreensão de querer construir um novo mundo. “Hoje, tratamos o tema como um passo adiante”, ressalta. Para ele, a educação e a economia regem a sociedade. Kapron comenta que o principal desafio dos educadores é derrubar as janelas e ver as novas possibilidades sem barreiras, sem paredes, com um olhar multidisciplinar. “Um outro mundo não poderá ser construído através de um desejo da comunidade, mas, sim, de uma prática que deve ser estimulada principalmente pelos professores”, afirma.
Já a socióloga Helena Singer mostrou as experiências das escolas democráticas da região metropolitana de São Paulo, que optam pela educação solidária, com acesso universal à informação, incentivo a discussão coletiva, a participação de todos, a divisão de responsabilidades, de tarefas sem hierarquia. Segundo ela, este modelo estimula a confiança, a satisfação pessoal e agregação. Ela também falou da solidariedade na gestão escolar, a livre circulação dentro da escola, da auto-apendizagem e do novo papel dos educadores. Helena falou, ainda, da inclusão de alunos, que aprendem através das diferenças. “Creio na idéia de unir os que sabem ler com os que não sabem, dos maiores que cuidam dos menores, entre outros. Assim, os ritmos de cada um começam a serem respeitados e as pessoas se sentem mais acolhidas”.