Moacir Gadotti
Professor da Universidade de São Paulo
Diretor do Instituto Paulo Freire
O Fórum Mundial de Educação teve um rápido crescimento desde seu nascimento, em janeiro de 2001, quando a proposta de sua realização foi apresentada, pelos participantes do Fórum Paulo Freire, durante a primeira edição do Fórum Social Mundial. Cada Fórum elege um grande tema. Em 2001, debatemos a “Educação no mundo globalizado” e, em janeiro de 2003, “Educação e Transformação”. O documento final deste último encontro, propôs que o FME, como movimento, se engajasse na construção coletiva de uma Plataforma Mundial de Educação, uma plataforma de lutas frente ao neoliberalismo e à mercantilização da educação.
Levando à frente esse objetivo, vários Fóruns regionais e temáticos foram realizados em diversos países. São Paulo, de 1 a 4 de abril próximo, sediará um Fórum Temático sobre a “Educação Cidadã para uma Cidade Educadora”, rumo a Porto Alegre, rumo à terceira edição do FME, que será realizada de 28 a 31 de julho deste ano. O grande desafio desse movimento, agora mais descentralizado, é ter clareza não apenas sobre sua estrutura e funcionamento – já que não é uma instituição ou organização mas um movimento – mas também sobre sua plataforma de lutas.
O Fórum Mundial de Educação, na mesma perspectiva do Fórum Social Mundial, busca, de forma pluralista, construir alternativas ao projeto neoliberal. Este princípio está claro na mente de todos os que militam nesse Fórum. Mas falta ainda maior clareza sobre a plataforma de lutas que consolidará esse movimento. Sustenta-se, coerentemente, que a luta contra a mercantilização e a favor do direito universal à educação é o caminho para essa educação necessária para um outro mundo possível. Mas precisamos ir além.
E, para ir além, precisamos também olhar para trás e reconhecer as lutas históricas de numerosos educadores e de suas organizações. Por isso é importante que elas estejam presentes nos Fóruns. Há certamente muito espaço para o novo, mas há também bandeiras históricas que precisam ser reconhecidas, avaliadas e incorporadas na nossa Plataforma. Essa Plataforma não deverá se constituir apenas num documento, num produto, num resultado. Ela deve ser reconhecida como movimento de formação. Não basta proclamá-la. É preciso ter clareza sobre o seu processo de construção. Não será algo a ser vivido quando ficar pronto. As proposições já são vivência. São as contribuições de todos que vivem respostas ao projeto neoliberal.
Nos Fóruns preparatórios ao Fórum de Porto Alegre, estamos discutindo não apenas os grandes princípios da Plataforma, mas também a sua metodologia. No FME-SP, o Conselho Internacional e o Comitê Organizador constituíram 30 relatores que sintetizarão as principais propostas de São Paulo a serem enviadas e debatidas em Porto Alegre que deverá aprovar um documento com as “Diretrizes da educação necessária para um outro mundo possível”.
A discussão está apenas começando. Nesse processo, não podemos prescindir da contribuição de todas as tendências e vertentes progressistas no campo educacional, praticando intensamente o diálogo/conflito e a escuta atenta de todos argumentos. Aprendemos muito com Paulo Freire a esse respeito. Ser pluralista não é ser eclético, juntar de tudo um pouco. Ser pluralista é defender um ponto de vista e dialogar, a partir dele, com pontos de vista diferentes e opostos.
As experiências de alternativas concretas ao projeto pedagógico neoliberal são uma referência para a Plataforma. Soluções mágicas para enfrentar os desafios da educação, todos sabemos, elas não existem. Alguns princípios, defendidos historicamente e consolidados pelos educadores, são intocáveis, como cláusulas pétreas de nossa Constituição Educacional, mesmo que ela não esteja escrito e homologada. Nosso maior desafio estará na metodologia participativa e cidadã de sua constituição. Nesse processo de construção é que conseguiremos definir com maior clareza seus rumos, suas estratégias e sua estrutura como documento de lutas por uma educação emancipadora para todos.