Moacir Gadotti
Os Fóruns são lugar de protestos, de análises, de diagnósticos, de debates e críticas, mas também, lugar por excelência de consolidação de propostas. Fóruns são também lugares de aprendizagem: jamais podemos esquecer a longa história de luta dos povos e de suas diversas organizações e movimentos. Por isso precisamos lembrar aqueles que fundamentam nossa práxis.
Os Fóruns são também, por isso mesmo, um lugar de lembrança, lembrança dos nossos mortos e desaparecidos e de nossos referenciais. O FME-SP presta homenagem a alguns dos mais destacados educadores brasileiros – Maria Lacerda de Moura, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Milton Santos, Florestan Fernandes – e, certamente, lembrará numerosos outros, como Maria Nilde Mascelani, Neidson Rodrigues, Perseu Abramo, Paulo Rosas, Mário Osório Marques.
Algumas palavras apenas sobre nossos homenageados e seu vínculo com os movimentos sociais e populares.
Maria Lacerda de Moura (1887-1944), professora, principal representante brasileira do pensamento pedagógico libertário, desde muito jovem militou nas causas sociais e feministas, organizou mutirões de construção de casas populares para a população carente. Foi uma das fundadoras da Liga Contra o Analfabetismo e presidente da Federação Internacional Feminina. Escreveu sobre educação, direitos da mulher, sexualidade, combate ao fascismo e antimilitarismo.
Paulo Freire (1921-1997) ficou mundialmente conhecido pela criação do chamado “Método Paulo Freire”. Na verdade, mais do que um método de alfabetização, uma teoria emancipadora do conhecimento. Em 1964, quando coordenava o Plano Nacional de Educação de Adultos, foi preso e exilado pela ditadura militar brasileira, em razão de suas ações político-pedagógicas. Esteve sempre ligado aos movimentos sociais e populares. Foi o criador do MOVA-SP (Movimento de Alfabetização de Jovens e de Adultos da Cidade de São Paulo).
Milton Santos (1926-2001), neto de escravos e muito pobre, foi alfabetizado em casa por seus pais. Geógrafo por ofício e vocação, brilhante acadêmico e eterno educador, assumiu as causas dos oprimidos em todas as dimensões da vida: como negro, líder estudantil e intelectual. Cidadão do mundo, fez do espaço urbano o seu foco principal de conhecimento crítico, comprometido com a construção de uma geografia cidadã para uma cidade verdadeiramente educadora.
Darcy Ribeiro (1922-1997) foi intelectual, político e homem do povo. Seu grande projeto foi desvelar e revelar aos brasileiros e ao mundo os mais significativos traços da cultura nacional, com atenção especial às nações indígenas. Exerceu vários mandatos no legislativo e no executivo. Viveu em muitos países da América Latina, onde conduziu programas de reforma universitária. Assumiu o papel de homem de poder e de crítico do poder, compondo uma visão integradora de política e cultura.
Florestan Fernandes (1920- 1995), reconhecido como um divisor de águas da sociologia brasileira, associou seu brilhantismo acadêmico à incansável luta com e nos movimentos sociais. Inconformado com a malvadez do capitalismo e com as ideologias do capital, transformou a sociologia em ferramenta crítica de denúncia, ação política e de intervenção social, até os últimos dias de sua vida.