Mais de três mil pessoas, entre elas mais de 1.500 crianças, participaram da edição temática do Fórum Mundial de Educação Infantojuvenil entre 26 e 27 de fevereiro, em Osasco, região metropolitana de São Paulo. Foram mais de cem atividades, entre autogestionadas, relatos de experiências nacionais e internacionais, pôsteres de projetos de todo o país e manifestações culturais. Lideranças sociais e governamentais, educadores populares, especialistas em educação de diversas nacionalidades, professores e alunos participam do encontro que se propôs a ser um espaço de construção de diretrizes rumo às políticas públicas no campo da educação formal e não formal.
Após a apresentação da Orquestra da Oficina de instrumentos de corda da Escola de Música Tim Maia, de Carapicuíba, sob a regência do maestro Samuel Dias, Salete Valesan Camba, secretária executiva do Fórum Mundial de Educação, e Geovana, aluna da EMEF Manoel Tertuliano, abriram oficialmente o FMEIJ junto com representantes do poder público e de organizações da sociedade civil. Participaram ainda as prefeituras de Osasco, Carapicuíba, Embu, Secretaria Nacional de Cultura, Secretaria Nacional de Juventude, além de Unicef Brasil, Undime Nacional, UNE, representantes do Comitê Organizador do Fórum Mundial Temático da Espanha, Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação e da Pró-reitoria da Unifieo.
Aprendizagem expansiva, o corpo e políticas de Estado para infância e juventude
A conferência Educação é direito e é um bem público, abriu o Fórum e reuniu especialistas de diversos países, profissionais da educação e alunos. A aprendizagem defensiva e dominante foi o tema de Bernard Ficher (Alemanha), da Universidade Sisgen e do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação. Ficher criticou a organização lógica escolar e a aprendizagem defensiva, baseada em mecanismos de suborno, que tem as notas e os boletins escolares como principais instrumentos. Ficher condenou “este tipo de aprendizagem perversa”, e, como alternativa para a educação defensiva, apontou a aprendizagem expansiva.
Ficher enfatizou que o direito à educação deve ser uma provocação fundamental da educação pública, uma provocação que exija uma razão mais política do Estado e que tenha como conseqüência a formação de um indivíduo que é um sujeito social. Os participantes da conferência também puderam conhecer uma experiência inovadora de educação realizada na Alemanha, país que tem uma educação extremamente tradicional, em que as crianças dos primeiros quatro anos do Ensino Fundamental organizavam sua própria aprendizagem e estudos e obtiveram resultados surpreendentes.
Ressaltou que há também no Brasil boas perspectivas de educação pública, como os Pontos de Cultura, por exemplo, que trazem novas possibilidades na relação ensino-aprendizagem. “O sujeito aprende quando tem possibilidade de ensinar. A relação entre o aprender e o ensinar acontece ao mesmo tempo”, ponderou. Destacou ainda outros aspectos que podem ser utilizados na prática educativa, como a aprendizagem mimética, o caráter performático da aprendizagem e o corpo humano, um importante instrumento de ensino e aprendizagem, exemplificando “a facilidade que o brasileiro tem de lidar com o corpo”. “A diferença é que os outros povos do mundo têm um corpo e os brasileiros ‘são’ o corpo.”
A Secretaria da Cidadania Cultural do Ministério da Cultura foi representada pelo seu secretário Célio Turino (Brasil), que relatou experiências pioneiras e transformadoras de Pontos de Cultura de diversas regiões do Brasil. Segundo ele, é preciso compreender que um Ponto de Cultura não é apenas um espaço que reúne pessoas, é toda potência humana realizada plenamente com afeto, envolvimento e paixão. Destacou, diante de um público majoritariamente composto por educadores e estudantes, que são os professores os grandes representantes do trabalho realizado com paixão, já que resistem a todas as adversidades da profissão para desempenhar o papel fundamental de educar.
Beto Cury, Secretário Nacional da Juventude, que expôs a experiência da Secretaria, disse que “o jovem deve ser visto como agente fundamental da sociedade”. Ao fazer uma retrospectiva da história desse segmento no Brasil, lembrou que até 2005 o país não tinha políticas específicas que olhassem para as singularidades da juventude. “Nossa população jovem corresponde a 50 milhões de pessoas, entre 15 e 29 anos. É nesta faixa etária que há os piores índices de desemprego e evasão escolar.”
Na tentativa de sanar alguns desses problemas, há cinco anos foi criada a Secretaria Nacional da Juventude que baseia suas diretrizes na dimensão participativa, na constituição do marco legal, na dimensão internacional, e de inclusão e direitos. De lá pra cá já houve grandes avanços, mas também há muitos entraves, segundo Cury. “Os paradigmas estão mudando, mas o desafio é fazer com que as políticas para a juventude sejam vistas como políticas de Estado”, afirma.
Na opinião de Cury, o Brasil tem uma dívida histórica com os jovem e para resolver essas defasagens é necessário, combinar políticas públicas estruturantes, como a construção de universidades e escolas técnicas, com programas de inclusão como o Prouni e ProJovem. “Se quisermos um país democrático, justo e soberano é fundamental políticas que permitam o protagonismo juvenil. Por isso a necessidade de trazê-los para o exercício de sua plena cidadania,” finaliza.
Silvio Premoli (Itália), professor da Universidad Insubria Varese e representante da cooperativa social La Grande Casa, falou do contexto global como fomentador de educações plurais que tomam diferentes formas em diferentes lugares, mas ao mesmo tempo ressaltou a dificuldade que a educação encontra para cumprir, neste cenário, sua função natural, a de transformar a realidade existente.
Renan Alencar, secretário geral da Organização Latino Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), que reforçou a importância da luta do movimento estudantil para garantir a educação como um direito. E pontuou três planos que considera fundamentais: a garantia de igualdade de acesso em todos os níveis de educação, independente da classe social, políticas públicas de permanência aos estudantes do Ensino Superior e a relevância da capacidade da educação se adaptar às realidades sociais.